segunda-feira, 10 de março de 2014



"A escola deveria incorporar a ecologia dos saberes"

O sociólogo Muniz Sodré é um defensor da diversidade. Em suas obras, que orbitam pelos campos da comunicação, cultura, sociologia e educação, ele exalta a necessidade do reconhecimento das diferenças e de uma aproximação afetiva delas como forma de se caminhar para a aceitação da pluralidade e se valorizar o Outro (em letra maiúscula mesmo, para evidenciar a deferência). Formado em direito, com mestrado da sociologia da informação e doutorado em letras, Sodré é tido como um dos mais importantes intelectuais brasileiros. Ao transitar pelo ambiente acadêmico e o de saberes populares, ele faz o apreço ao diverso não ficar restrito apenas a sua produção científica.
Prova disso é que Sodré, ao mesmo tempo em que é professor emérito da UFRJ e já ocupou o cargo de presidente da Biblioteca Nacional, é também mestre de capoeira e tem o título de Obá de Xangô do Opô Afonjá, conferido a “protetores” de terreiro de candomblé. Em 2012, ele publicou o livro Reinventando a educação: diversidade, colonização e redes, em que afirma: “A ideia do ‘saber único’ termina recalcando uma parte importante da realidade (…) seus efeitos são igualmente danosos no tocante à educação, porque o monismo cultural impede o pluralismo”.
Para o estudioso, a educação brasileira precisa ser reentendida, uma vez que ela foi concebida com base em saberes eurocêntricos, descartando o potencial intrínseco aos outros povos que constituem a diversidade do nosso país. Ele entende que a experiência que cada aluno traz deve ser valorizada e compreendida na formação do que chama de ecologia de saberes.
Em entrevista ao Porvir, o intelectual falou da importância de os professores, figuras que considera cruciais na formação do indivíduo, mudarem de papel. Em vez de transmissores de conhecimento, eles devem assumir a função de tradutores das diversas linguagens do mundo – que são ainda mais vastas quando se considera que o conhecimento tem múltiplas origens. Falou também de tecnologia como um espaço ao qual estamos irremediavelmente ligados pela cultura digital. E criticou o currículo adotado pelas escolas, que acabam criando seres competitivos, e não necessariamente promovem a circulação de saberes.
O senhor diz que o professor deve assumir o papel de iniciador nas linguagens do mundo. Como o professor se prepara para apresentar a seus alunos tantas linguagens, que podem ser novas inclusive para ele?
A docência como uma iniciação a linguagens supõe uma pedagogia que não se define por inculcação de conteúdos, mas pelo acolhimento da diversidade. Cada linguagem é um modo de ser do conhecimento, que envolve cognição e ética. Isto vale para qualquer campo do saber, até mesmo os mais especializados. Para tanto, o iniciador-tutor-professor, qualquer que seja o nome, precisa de uma formação diferenciada e uma reciclagem permanente. Tudo isto supõe também um status especial para o docente.
Como a lógica de diálogo com a tecnologia pode influenciar positivamente nos processos de aprendizagem?
Tecnologia é a razão ou a linguagem da técnica. A consciência do homem contemporâneo é fortemente moldada não apenas pelos objetos técnicos de que dispõe, mas principalmente por um “coração” afinado com a ambiência tecnológica. Como toda aprendizagem começa a partir da ambiência (família, meio natural etc.), o diálogo educacional incluirá necessariamente os pressupostos tecnológicos do modo de existência.
O que falta para as escolas e as famílias serem capazes de educar para o sensível e para a diversidade? Qual é a importância da aproximação com o outro e do reconhecimento da diferença na formação de cidadãos plenos?
A separação (platônica) entre paideia (a cultura do logos) e paidia (jogo, a cultura do sensível) marca ainda hoje profundamente a educação ocidental. Mas é a própria tecnologia que põe em questão a pretensa superioridade lógica dos signos, das palavras (a ideia de cultura como o sério ou o sisudo), expondo a parte importante do sensível nas elaborações culturais. O conceito de cultura ecológica preconiza o dar-se as mãos às diferenças.
O senhor costuma falar que a escolarização precisa se desprender da ideia de escola. Como fazer com o que é aprendido fora da escola também seja valorizado e convidado a entrar na sala de aula?
Eu falo de desprendimento físico, de escola entendida como centro imóvel de transmissão de conhecimento e formação humana. Escola é, na verdade, uma forma moderna (assim como a democracia e o mercado são formas) da socialização do saber. Essa forma não deveria ser monológica, nem monocultural, e sim o processo de incorporação e diálogo com todos os saberes circulantes num grupo humano qualquer. Seria essa a ecologia dos saberes.
Em suas falas, o senhor fala da necessidade da transformação de currículos e conteúdos. Quais são os conteúdos que precisam ser considerados e/ou valorizados no currículo brasileiro?
Os currículos escolares são geralmente absurdos: um sem-fim de matérias que o estudante esquece tão logo ultrapassa as barreiras de acesso ao ensino superior. Todo esse absurdo destina-se a preparar o jovem para a competição do teste. O conhecimento acaba definindo-se pela capacidade de passar no teste. Aí não se avalia realmente o saber, mas a competitividade do indivíduo, como se estivesse no mercado.
Fonte: Revista Fórum
Link: http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/02/a-escola-deveria-incorporar-a-ecologia-dos-saberes/

terça-feira, 4 de junho de 2013

Minha história com o NEPSO, por Eloísa Soares

O NEPSO chegou na minha vida de supetão. Fui abordada no corredor da escola, às vésperas da reunião e fui no susto. Estando lá, comecei a pensar que “aquilo” seria uma chatice! Mas, enquanto as palestrantes iam falando, interagindo com o grupo de educadores, fui percebendo que talvez seria uma boa oportunidade de aprendizado.
No final do dia - eu estava exausta - as palestrantes nos confiaram uma tarefa. “- Ah, a tal pesquisa de opinião!”, pensei. E o tema era Bullying, quase chorei! Cansada, com o raciocínio lá no pé, pensei em desistir, ainda mais quando olhei a pia cheia de louça, jantar pra fazer, filho pequeno querendo atenção... De repente, o celular toca. Era minha amiga pedindo que eu fosse até sua casa. Larguei tudo e fui. Pensei: “-Por lá mesmo faço minha entrevista”.
Entrevistei minha amiga, o marido dela, a sobrinha, a filha e, por fim, o filho mais velho, J.V. Entre risadas e brincadeiras, a coisa ficou bem séria quando fiz a pergunta: “Você já sofreu bullying?”. O jovem começou a chorar e relatar fatos horríveis que vinham acontecendo com ele há algum tempo no âmbito escolar: perseguições, ameaças, agressões físicas e psicológicas.
Conversei com os pais, mesmo a contragosto do menino que estava com medo. A mãe atribuía a mudança de comportamento de J.V. à chegada da irmãzinha, mas a situação era bem pior. O menino estava matando aula e havia desistido de estudar.
Que dia difícil! Voltei pra casa e retomei meus afazeres, mas o pensamento era um só: que amanhecesse e eu pudesse estar no curso e relatar o que havia acontecido.
Segundo dia de NEPSO, minha visão e expectativa eram outras e reconheci que através daquele tempo (que não foi perdido), tive a oportunidade de ajudar alguém que convivo há tanto tempo, mas que de longe, não percebia o que acontecia. Através do "dever de casa" do NEPSO, pude perceber, mais uma vez, que as aparências enganam. Hoje o NEPSO faz parte da minha vida!

Eloísa Soares é professora da Escola Municipal Serra do Sambê, em Rio Bonito-RJ.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Encontro “Olhar a prática: um exercício de reflexão” – Um tempo de troca

Diferentes línguas e sotaques discutindo sobre sistematização. Isso resume o Encontro “Olhar a prática: um exercício de reflexão” que aconteceu nos dias 14 e 15 de março, na cidade de São Paulo. A equipe da Ação Educativa reuniu em sua sede representantes de todos os polos da rede com o intuito de promover uma cultura de registro das práticas docentes e construir coletivamente uma metodologia NEPSO de sistematização.
Numa primeira etapa, os participantes foram divididos em pequenos grupos para analisar registros de pesquisas realizadas em polos diferentes do seu de origem. Posteriormente, os grupos apresentavam aos demais a análise feita, destacando qualidades e possíveis lacunas, e cada integrante do grupo foi estimulado a escrever uma devolutiva – carta apresentando aspectos positivos e pontos a melhorar – ao autor do material. Ficou clara a diversidade de perspectivas de como deve ser produzido um registro e a necessidade de definir um modelo que defina critérios de documentação, sem interferir nas particulares de cada local.
Foi então que Cristina Meireles, coordenadora executiva da Casa 7 – Memórias e Aprendizagens*, e especialista em sistematização, destacou os pontos citados em todas as apresentações e orientou a elaboração de uma pauta comum de observação da prática do docente pesquisador. Sob o lema “o que não está escrito, não existe”, todos definiram o que deve constar nas sistematizações das experiências no uso da metodologia NEPSO.
No segundo dia de curso, os participantes foram novamente divididos em grupo, dessa vez com seus companheiros de pólo, para analisar o próprio registro. Agora, com um olhar direcionado e um parâmetro de análise, puderam examinar o documento de maneira mais reflexiva, crítica e escrever uma devolutiva mais consistente ao autor.
O Encontro foi um tempo de muita troca e crescimento. Estimulou os participantes a refletir sobre sua própria prática e observar a prática alheia com olhar generoso. Permitiu que as diferentes mentes e culturas pensassem juntas para um mesmo propósito. Provou, mais uma vez, que a aprendizagem é um constante processo de reinvenção.  

*Casa 7 – Memórias e Aprendizagens é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2006, com a missão de contribuir para o fortalecimento da prática social e de seus atores pela via da valorização e articulação das memórias, aprendizagens e conhecimentos que dela derivam.

Por: Debora Teixeira


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Feliz 2013!!!


Olá Professores,
Desejamos um Feliz Natal e que 2013 seja repleto de realizações, sonhos e novas possibilidades.

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.
Paulo Freire.


Um beijo com carinho.
Equipe Nepso Polo Rio de Janeiro


  • Imagens do 1º Seminário Nepso Polo Rio de Janeiro









quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Agradecemos à participação de tod@s no I Seminário Nepso Polo Rio de Janeiro

Gostaríamos de agradecer imensamente a sua participação durante todo o
período letivo em que desenvolvemos a metodologia Nepso e em especial a
participação no I Seminário Polo RJ.
Agradecemos o empenho dos professores e a dedicação com que conduziram o
trabalho. Foi um ano de muito conhecimento, troca de saberes e
aprendizado.

Muito obrigada!!!

Obs 1: Sabemos da agenda apertada durante o mês de dezembro, por isso, nossa
reunião de avaliação ainda não foi agendada, pensando nesta correria
típica de final de ano, vamos enviar uma avaliação para ser preenchida  e
devolvida por e-mail sobre o Seminário e sobre nosso encontros e outros.

Em fevereiro dia 26/02/2013, temos um encontro já agendado para o
planejamento de 2013. Neste encontro vamos retomar a avaliação de 2012 e
planejarmos o novo ano que se inicia.

Obs 2: As fotos do Seminário serão publicadas em breve.

Um beijo Grande,
Equipe Nepso Polo RJ.

Dia Internacional das Pessoas com Deficiência

http://www.youtube.com/watch?v=XCvAbYPWHuQ&feature=youtu.be